2.10.08

Paul Newman como herói de Israel



Meses antes da morte de Paul Newman, em 26 de setembro último, aos 83 anos, um dos seus personagens inesquecíveis tinha voltado à tona no mundo judaico: Ari Ben Canaan, que há meio século foi o protagonista do filme Exodus, baseado no livro de Leon Uris, foi muito citado pela mídia de Israel durante a celebração do 60º. aniversário do país, quase como se tivesse sido um herói da vida real.

Bonito, ousado, viril, desafiando os ingleses e derrotando os árabes, conquistando o coração de uma bela mulher enquanto comandava um navio repleto de sobreviventes do nazismo, o irresistível Newman/Ben Canaan parecia um mocinho de filme de faroeste transplantado para o Oriente Médio.

Se o roteiro do filme, e o livro, foram ou não inteiramente fiéis aos fatos, não importa. O que importa é que, em termos de imaginário coletivo, o filme, dirigido por Otto Preminger, se tornou um libelo favorável ao Estado de Israel. Com o livro, ajudou a forjar a percepção do público ocidental em relação à criação de Israel e ao sionismo. Em vez do antigo personagem judeu neurótico e vulnerável, sempre às voltas com perseguições reais e imaginárias, Exodus exibia um guerreiro ético, pronto para morrer em grande estilo por um projeto coletivo.

O fictício Ari Ben Canaan acabou ganhando status de mito fundador e representante de um povo. Numa cena do filme, ele fala dos fornos crematórios e da solidão dos judeus no pós-guerra. “Não temos amigos, só temos a nós mesmos. Lembre-se disso!” – diz a um companheiro da resistência judaica.

Leon Uris contava ter lido centenas de livros de História judaica e israelense antes de escrever seu romance em torno da viagem do Exodus e da luta pela criação de Israel. Publicado em 1958, o livro vendeu mais de 20 milhões de exemplares nos EUA nos anos seguintes e foi traduzido para dezenas de línguas.