1.3.09

“Valsa com Bashir” – reflexões em torno da guerra do Líbano



O filme israelense Valsa com Bashir, desenho animado para adultos, até parecia favorito mas não levou o Oscar de “melhor filme estrangeiro”, semana passada. Porém prêmios anteriores e a aclamação de público e crítica, em Israel e na Europa, já haviam transformado o diretor Ari Folman em celebridade antes de sua chegada a Hollywood.

O filme (veja trailer ao lado) gira em torno de um momento trágico, o assassinato de palestinos por falangistas libaneses, em 1982, nos campos de refugiados de Sabra e Shatila controlados pelo Exército israelense, e de suas repercussões, gerais e psicológicas. É com a visão de quem esteve perto do local dos massacres que Folman relata o trauma e o apagamento da memória de um jovem soldado. Folman descobriu que também havia esquecido a maioria dos fatos presenciados naquela época, e entrevistou antigos companheiros para compor seu painel.

A película teve financiamento oficial e contou com a ampla promoção da diplomacia israelense nos EUA – que não reza pela cartilha de tratar seu país como mito e assistiu em peso à cerimônia do Oscar. Folman deu duas razões para a reação positiva do governo ao seu filme. Uma: ele apresenta Israel como um país tolerante, que permite que seus soldados falem abertamente a respeito de suas vivências de guerra. Outra: mostra que não foram as tropas israelenses que cometeram os massacres de Sabra e Shatila.

Como o filme não é propaganda, vale muito mais do que se propaganda fosse. Segundo um diplomata israelense em Nova York, David Saranga, a história serve para, entre outras coisas, mostrar ao mundo, que vê Israel como um Estado militar, a profunda moralidade das Forças Armadas do país e dos israelenses em geral.

Alguns teriam preferido que algum filme leve (estilo comédia à beira-mar em Tel Aviv) tivesse sido escolhido para representar Israel na festa do Oscar. Mas já que a opção foi por “Valsa com Bashir”, o pragmatismo norte-americano (leia-se Fundação para a Cultura Judaica / Foundation for Jewish Culture) produziu um guia didático para quem for assistir “Valsa com Bashir” entender melhor o contexto em que o drama se desenrola.

O guia baseia-se principalmente na investigação que os próprios israelenses fizeram sobre Sabra e Shatila e apresenta os fatos anteriores e posteriores à guerra do Líbano. Minha conclusão: para defender uma causa a longo prazo, é melhor não tratar o distinto público como se este fosse um grupo de escolares ignorantes...