21.8.09



O shad’hen

Na década de 1940 ainda havia na comunidade judaica a função de shad’hen (do hebraico shad’han, casamenteiro), embora um pouco diferente da maneira europeia. Lá, era uma profissão, aqui, um “bico” remunerado quando o encontro se concretizava. Em geral, os pais se preocupavam em casar as filhas o mais cedo possível, antes dos 20 anos, senão já seriam consideradas “muito velhas”. Minha mãe não era exceção, só que não se interessava pelos serviços do shad’hen, pois nem ela nem suas irmãs, ao todo seis, haviam tido casamentos arranjados. Em Varsóvia, de onde vieram, a vida para o judeu era mais difícil que no shtetl, mas era um mundo mais aberto.

Eu, mocinha, ainda na escola, vivendo a alegria dos 15 anos, presenciei um dia meu pai chegando do trabalho em estado de grande irritação. Inquirido por minha mãe, contou-lhe que um shad’hen havia tido a audácia de lhe propor para mim um shídor (acordo entre os pais do rapaz e os da moça com vistas ao casamento).

- E o que você respondeu? - minha mãe quis saber, consternada.

- Pedi ao sujeito que se retirasse, pois não tenho mercadoria podre para vender.

- Você tem quatro filhas em casa - alertou minha mãe.

Meu pai lançou-lhe um olhar de pena, e eu, ouvindo o diálogo, fiquei matutando por que razão minha mãe estava tão preocupada com casamento, se nem sequer namorávamos!
Quando me pego às vezes nestas lembranças, acho graça, imagino que peso e valor tinham tais coisas para nossas mães. Com o passar do tempo, fomos nos casando, uma após outra. Minha mãe ainda deu à luz mais uma menina. Só que, então, já tinha adquirido a segurança que lhe permitia dizer:

- Quando sair a última, ainda virão me perguntar se não tenho mais.