24.10.09

Reflexões de Guila Flint sobre guerra e paz


A repórter da BBC Brasil em Tel Aviv, Guila Flint, esteve em São Paulo e no Rio para lançar o livro "Miragem de Paz - Israel e Palestina - Processos e Retrocessos" (editora Civilização Brasileira), com textos feitos entre 1995 e 2009 para a BBC Brasil e, entre outros, O Estado de S. Paulo, Carta Capital e Globonews. Como judia brasileira radicada há 40 anos em Israel, ela está preocupada com o futuro do país, já que a paz não lhe parece próxima e as oportunidades de uma negociação produtiva foram sendo fechadas, nos últimos anos, pelos radicais dos dois lados.

Leia abaixo entrevista dela no site da BBC Brasil, em matéria de Rodrigo Durão Coelho sob o título de Livro de repórter da BBC retrata 'agonia' no Oriente Médio.
"Escolhi 315 textos de cerca de 5 mil. São entrevistas, análises, reportagens e boletins, uma variedade que cria dinamismo. Muitos capturam o calor do momento, trazendo personagens israelenses, palestinos e brasileiros", diz a repórter.

A capa da obra, a foto de uma pintura paradisíaca do artista britânico Banksy na barreira israelense da Cisjordânia, ilustra o que a autora chama no título de "miragem", para definir as negociações entre os dois lados.

Dividido em quatro capítulos, o livro de Flint narra de forma cronológica o que ela chama de "agonia do processo de paz" entre israelenses e palestinos.

O primeiro, intitulado O Grande Golpe, refere-se ao período entre 1995 e 1999, após o assassinato do então premiê israelense Itzhak Rabin por um extremista judeu e o primeiro governo de Binyamin Netanyahu.

Para Flint, a morte de Rabin foi um dos mais duros golpes ao processo de paz, responsável pelo aumento do extremismo nos dois lados.

O segundo capítulo, Nova Esperança, Decepção e Explosão, engloba textos produzidos entre 1999 e 2006, época dos governos de Ehud Barak e Ariel Sharon; o ínicio da segunda Intifada (levante) palestina; o aumento do número de atentados suicidas palestinos; o início da construção da barreira israelense na Cisjordânia; a morte de Yasser Arafat e a reocupação de cidades palestinas.

A terceira parte, Miragem de Processo e Duas Guerras, referente aos anos de 2006 a 2009, fala da vitória do Hamas nas eleições palestinas, as pouco frutíferas negociações entre Ehud Olmert e o líder palestino Mahmoud Abbas, a guerra no Líbano, a ofensiva de Israel contra Gaza e a expulsão do grupo Fatah do território.

O capítulo final, De Volta à Estaca Zero e Impasse, fala sobre o novo governo de Netanyahu, que assumiu novamente neste ano o cargo de premiê israelense.

Jornalista desde 1992, quando começou a escrever sobre o Brasil para a mídia israelense (em 95 inverteu os papéis, escrevendo sobre o Oriente Médio para o Brasil), Guila Flint se diz hoje muito mais pessimista em relação ao processo de paz do que era na década passada.

"Eu imaginava que o assassinato de Rabin fosse apressar a paz, que a sociedade se organizaria contra as forças fundamentalistas, contra a extrema direita", diz ela.

"Mas a ampliação dos assentamentos judaicos foi o principal fator que fez os palestinos perderem fé no processo. Por outro lado, o aumento dos atentados suicidas, entre 95 e 2003, tornou muito difícil para os pacifistas de Israel convencer a sociedade de que a paz é possível."

"Um acordo de paz hoje é mais urgente que nunca, porém mais improvável", completa.

A autora diz que, entre os textos escolhidos para seu livro, existem pitadas de humor. Ela cita a história de um assaltante israelense que roubou uma bolsa na praia de Tel Aviv e depois percebeu que, dentro do objeto furtado, carregava uma bomba.

"Ele entrou em pânico e chamou a polícia. Não só foi isento de responder pelo furto, mas foi considerado um herói, por ter salvo muitas vidas", conta Flint.

Além dos textos, o livro de 518 páginas traz ainda versões atualizadas de mapas dos assentamentos judaicos e da barreira israelense construída na Cisjordânia (Rodrigo Durão Coelho).