20.3.10

Um Homem Sério


Se você gosta dos irmãos Coen [acima, com personagens do filme], aprecia o avesso das coisas e ri de humor negro, Um Homem Sério é imperdível. Se, além do mais, entende idish (ou reconhece sons, gestual e expressões), então o filme será inesquecível. A cena inicial na "língua sagrada", com o casal pobre visitado por um fantasma (ou é apenas um pobre e velho sábio?) num shtetl nevado, se presta a interpretações variadas. Meu palpite é simples e nada sobrenatural: ela indica como o acaso influencia a vida de todos nós e como tudo pode mudar de um momento para outro graças a detalhes fortuitos, a alguém que você encontrou ou não, à mosca que pousou na sua sopa. Depois, há muito idishismo no restante do filme, e uma fieira de personagens patéticos que poderiam ter saído de um livro de Philip Roth, ou dos nossos próprios álbuns de fotos familiares... A cena final levanta outra questão: o furacão é inevitável, mas vai passar ao largo ou vai nos esmagar, literal ou metaforicamente? E, se esmagar, quem será esmagado, quem se salvará? Como sobreviver no caos?


O sofredor protagonista do filme, Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg), é um professor universitário de Física certinho que vive com a família num subúrbio do meio-Oeste norte-americano em 1967. Tudo o que pode acontecer a um homem de classe média que nada fez para merecer tantos transtornos, acontece. Ele trabalha para pagar a hipoteca da casa, não joga, não bebe, só em sonhos vai para a cama com a vizinha, acredita que o amante da mulher é platônico. Então se trata de um Jó made in USA, como muitos críticos disseram? Ou se trata apenas dos irmãos Coen mostrando como o ser humano é falível e sujeito a ser apanhado em armadilhas (existenciais, sociais) que, mesmo previsíveis, dificilmente podem ser evitadas? São perguntas que não deviam ser feitas...afinal, como pondera um dos rabinos que Gopnik procura quando sua vida corre ladeira abaixo, "a resposta está na Cabala? Na Torá? E até mesmo existe uma pergunta?"