30.8.10

Banqueiro alemão incendeia debate sobre imigração com tiradas "racistas"

(por Gonçalo Venâncio, em 30 de Agosto de 2010)

"Todos os judeus partilham um gene comum. E isso faz deles pessoas diferentes das outras." Estas afirmações incendiárias de Thilo Sarrazin, ontem numa entrevista ao "Welt am Sonntag", marcam o regresso do fantasma do racismo à política alemã e em particular ao debate sobre a imigração. Membro do conselho executivo do Banco Central alemão e antigo ministro das Finanças de Berlim, Sarrazin tem a cabeça a prémio depois de todos os partidos alemães terem exigido a sua demissão do Bundesbank.

A chanceler Angela Merkel deu voz à condenação generalizada dizendo que as considerações de Sarrazin são "difamatórias". Guido Westerwelle, ministro dos Negócios Estrangeiros e presidente do FDP - parceiro "júnior" na coligação com a CDU de Merkel -, admite que todas as afirmações que "promovam o racismo ou o anti-semitismo não têm lugar no discurso político" germânico. Também Os Verdes não hesitam em dizer que Sarrazin "prejudica a imagem do banco" e "incita ao ódio" enquanto o SPD, partido de Sarrazin, lida com o incómodo acenando com a hipótese de expulsão. "Se o senhor Sarrazin não abandonar o partido de forma voluntária, vamos iniciar o procedimento de expulsão", disse à "Spiegel" Christian Gaebler.

Apesar da indignação, a verdade é que as palavras de Sarrazin não apanharam ninguém desprevenido. Aos 65 anos, o veterano político alemão tem um currículo extenso de tiradas racistas, especialmente quando o tema é a imigração. Aliás, Sarrazin prepara- -se para justificar os seus argumentos num polémico livro chamado "A Alemanha em Queda". Resumindo o argumento, Sarrazin defende que os imigrantes muçulmanos são menos inteligentes, vivem às custas do Estado e como têm muito mais filhos que os alemães podem tornar-se maioritários absorvendo o país.

Críticas que levaram o presidente da Federação Turca da Alemanha, Kenan Kolat, a pedir a demissão do responsável pelo departamento de controlo de risco do Bundesbank: "É o clímax do novo racismo intelectual e prejudica a imagem da Alemanha", sustenta Kolat. Naturalmente, também o grupo Conselho de Judeus na Alemanha repudia as palavras e argumentos "genéticos" de Sarrazin.

Em Outubro de 2009, Thilo Sarrazin mostrou pela primeira vez ao que vinha. Numa entrevista polémica, disse que 20% da população de Berlim era economicamente dispensável. "Uma grande parte de árabes e turcos nesta cidade, cujo número cresceu devido às políticas erradas, não tem qualquer função produtiva para além de vender fruta e vegetais." No ano passado, Sarrazin escapou à demissão. Agora, tudo aponta para que tenha menos sorte.