5.9.10

Troca de culturas e idish na França (por Lilian Brower-Gomes)

Em julho desse ano, o encontro intercultural de Bréau foi excepcional, pois além das atividades regulares das oficinas de línguas, dança (coreografia e tradicional idish), música klezmer, escrita, caligrafia, os ateliers de cozinha idish e de fabricação de pão abriram um novo caminho na ligação entre natureza e cultura, entre trabalho manual e intelectual. Outra troca rica foi a da oficina de música klezmer e música d'oc [ligada à langue d’oc, ou língua d’oc, grupo de dialetos franceses falados desde a Idade Média no sul da França]. Sem misturar os estilos, a oficina concretizou o nosso sonho de trocas entre culturas. O clímax dessas trocas e do "fazer junto" foi a realização da peça de I. L. Peretz , "Uma noite no velho mercado", na praça da cidade.

Todas as oficinas - música, dança, canto, teatro, idish - contribuíram com os seus trabalhos, os participantes se vestiram a caráter, o texto foi apresentado em idish, francês, português e em langue d'oc, a prefeitura colocou seu local à disposição para que partes do texto fossem ditas a partir das suas janelas, todas as gerações participaram enquanto diferentes personagens.

Essa peça de Peretz de 1904 nunca foi integralmente montada pois pede mais de cem personagens, crianças, jovens, adultos e velhos, e um cenário e um jogo de luzes extremamente sofisticado, se seguimos as indicações do autor. Montamos uma versão curta em uma semana, com a participação de cerca de 60 pessoas (não ao mesmo tempo), entre músicos, cantores e bailarinos. A língua de base foi o francês mas muitas réplicas foram em idish, algumas em português e algumas em langue d'oc. Mas mesmo se esse ano a base foi o francês foi uma grande emoçao a presença de tantas outras línguas.

A peça durou pelo menos 1h15 minutos e deu para passar a emoção e a tensão do texto- tal como entende Batia Baum, professora e tradutora do idish para o francês. A peça não é fácil de ser compreendida, pois não há uma trama e pequenas cenas dão acesso numa esfera simbólica à complexidade das relações políticas, religiosas, sociais e pessoais em planos "intra e extra" judaicos. Peretz havia participado de um trabalho de pesquisa junto às populações judaicas na Polônia, principalmente no distrito de Tomashover. A peça é abrangente e aborda temas humanos mais gerais, dentro dos parâmetros judaicos tradicionais mas também a partir da ótica do advogado de cidade grande que ele era.

Batia Baum acha que Peretz pensou nessa peça como uma comédia musical e que os textos, escritos em forma de verso, podem ser cantados. É o que vamos tentar fazer ao longo dos cinco anos que vai durar esse projeto. Um tempo para conhecer melhor a obra de Peretz, um tempo para criar um "encontro" entre a cidade do velho mercado e a cidade de Bréau, com suas histórias, suas imagens, ssuas músicas, suas tradições, um tempo para caracterizar a época e seus movimentos culturais, políticos e religiosos dentro do mundo judaico e sua relação com o mundo em geral, um tempo para sair pelo mundo remontando a peça com quem quiser participar.

PS : Sem falar nas oficinas de "tango judio" que se improvisaram na praça a pedido dos participantes, com o Walter Sztajnberg como professor !