14.1.11

Aprendendo Judaísmo a partir de Giffords


(Editorial JPost. 10/01/2011, tradução de Miriam Halfim)

A despeito de nosso desejo por uma definição universalmente aceita, não se pode ignorar uma realidade: muitos não judeus são mais judeus do que nossos patrícios judeus.

Enquanto nos juntamos em preces pelo rápido e completo restabelecimento da deputada Gabrielle Giffords, não se pode deixar de observar quão magnificamente a Congressista Democrática do Arizona serviu – e, temos fé, continuará a servir – como modelo de desempenho judaico.

Foi seu “sentido dos valores judaicos sobre o modo como tratamos o estrangeiro” que deu a Giffords a compreensão a respeito da profundamente dividida questão dos direitos dos imigrantes ilegais em seu Estado vizinho, segundo Josh Protas, ex-diretor do Conselho de Relações da Comunidade Judaica de Tusconarea. Ao mesmo tempo, ela não perdeu de vista as preocupações de seus colegas Constituintes quanto à segurança diante da afluência desordenada de estrangeiros ilegais.

Talvez as coisas de devam ao seu conhecimento dos desafios da defesa de Israel. Como deputada do 8º Distrito no sul do Arizona, Giffords teve de lidar com as disparatadas opiniões políticas da liberal Tucson e de suas terras rurais. A estratégia eminentemente judaica que ela usava visava ouvir opiniões variadas. De fato, foi num desses exercícios de abertura intelectual – durante um de seus projetos “O congresso na sua esquina”, evento realizado na entrada de um shopping em Tucson – que a força de Gifford como atenta jurista foi vilmente explorada, tornando-se, com o puxar de um gatilho, em sua trágica vulnerabilidade.

O próprio judaísmo de Gifford pode ter sido um motivo para o atentado, segundo um memorando do Departamento Americano para Segurança da Pátria. Jared Loughner é tido como alguém que manteve vínculos com a Renascença Americana, uma organização anti-governo, anti-imigração, anti-sionista e Anti-Semita. O memorando observa que Giffords é a primeira mulher judia eleita para um alto posto no Arizona e que o alegado anti-semitismo de Loughner tem sido considerado um possível motivo.

Em termos judaicos estritos, Giffords nem mesmo é considerada judia. Seu pai é judeu, mas sua mãe é uma cientista cristã.

Sua genealogia não a impediu de dizer, em 2006, “Em minha família, se você quer ver algo realizado, encarregue do assunto as parentes judias. Mulheres judias, de modo geral, sabem como concretizar as coisas.”

Segundo a Associação Judaica de Tuscoranea, seu avô, Akiba Hornstein, mudou seu nome para Giffords após mudar-se de Nova York para o Arizona “em parte porque não queria que seu judaísmo se tornasse um problema num território desconhecido”. Talvez o visceral instinto de sobrevivência de seu avô tivesse alvo certo. O atentado certamente levanta preocupações sobre um anti-semitismo renovado (e sobre a natureza altamente polarizada do discurso político na América de hoje).

Porém o ataque, que enfatizou os nobres e muito judaicos traços pessoais de Giffords, também lança luzes sobre a mudança na natureza da identidade judaica na América. Uma resposta cada vez mais inclusiva para a pergunta “Quem é judeu?” surgiu nos últimos anos. Em parte, como resultado da decisão de 1983 do Movimento Reformista de reconhecer a descendência paterna, em vez de apenas a materna. Essa decisão, que reconhece Giffords como uma judia completa, facilitou a integração da Congressista com sua sinagoga Reformista local, a Congregação Chaverim (Companheiros), quando ela começou a abraçar o Judaísmo ativamente, após uma transformadora viagem a Israel em 2001.

Mas a ampliação da definição de Judaísmo não se restringe ao Movimento Reformista. Uma tendência similar está varrendo o Judaísmo conservador, como o Dr. Adam Ferziger, Antigo Membro do Centro Rappaport de Pesquisa sobre Assimilação da Universidade Bar-Ilan observou em um recente artigo no jornal de Estudos Judaicos de Oxford. Em “Entre Israel Católica e Israel K’rov (amigos de Israel): Não judeus nas Sinagogas Conservadoras (1982-2009), Ferziger mostrou que nos termos estritos judaicos (judeu pela linha materna) a prole não judia de casamentos mistos não era mais excluída como membro ou da vida ritual ativa nas Congregações Conservadoras Americanas. Tal mudança de política deve-se, em parte, às taxas sem precedentes de casamentos mistos ocorridos nas últimas décadas do século XX. Uma outra possível razão pode ser que mais e mais pessoas como Giffords tenham feito uma escolha consciente de se identificar como judeus, sem entretanto terem a intenção de se converterem.

Como era de se esperar, a Lei do Retorno de Israel acomoda esta complexa realidade judaica ao garantir cidadania automática a pessoas como Giffords, seu marido e sua prole. Críticos da Lei do Retorno poderiam reclamar que ela estendeu cidadania a mais de 300000 ex-imigrantes da antiga União Soviética que não são judeus no sentido estrito. Mas pode ser aceito que se exclua estes “não-judeus” apesar do fato de que a vasta maioria está totalmente integrada na sociedade israeli, serve ao Exército do país e se torna cidadão produtivo? É possível excluir Giffords, outra “não judia” que é tão conscientemente judia?

Com todo o nosso desejo de uma definição universalmente aceita sobre “Quem é judeu?” que possa unificar o povo judeu, não podemos ignorar a complicada realidade: muitos “Não-judeus” são muito mais judeus do que seus companheiros “judeus”. A Congressista Giffords é uma delas